domingo, 24 de fevereiro de 2008

NÃO HÁ VAGAS - Ferreira Gullar

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos:
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de
aço e carvão
nas oficinas escuras

-porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira



*Ferreira Gullar tem como temáticas a denúncia social e a miséria, teve destaque no engajamento político na década de 60, tendo escrito o poema "Não há vagas" em 1963.

Um comentário:

Thais disse...

prof. gabi! pra mim que sou leiga vai ajudar bastante... :)
continua com o blog, hein?
e visita o meu: http://freudentenderia.wordpress.com

beijão,
thais